terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Jingle Bells, quando a colonização de pautas se engancha na republica de banana. Por um Brasil Marquessista


O Natal chega e a nossa festividade evidencia a nossa colonização. Um papai quem vem do polo (Norte, logico) que vem atender pedido de criança do cone sul (as ricas - mesmo se não se comportarem), em um manto vermelho e branco deslizando em seu esqui na nossa neve de 37 graus na sombra, pra comemorar um menino Jesus que nasceu na Palestina.

Em cima da mesa, por coincidência, tem um simbolo fálico das mesmas cores vermelho e branco. Em cima da mesma mesa, um Peru e uma farofa. Pelo menos a farofa a gente conseguiu dar um jeitinho de enfiar na festa como se ninguém tivesse vendo.

Se o Natal fosse nosso mesmo, mano Noel vinha dando grau na CG - e se recusava a subir! Se o catarrento quisesse o presente ele que fosse na portaria buscar.

Mas é natal e o que você fez? Nada? Ótimo! Porque teve uma galerinha que não vai ganhar presente do Papai Noel porque não se comportou bem. Passou o ano todo importando pautas dos estragos unidos que, muito cara para eles, nada ou pouco dizem para nós aqui.

Bell Hooks muito contribui para estabelecermos nosso pensamento e nosso modo de existir enquanto periferia ocidental, mas não podemos nos enganchar nas viagens do seu fandom.

Enquanto isso, Bell Marques ainda aguenta uma micareta inteira em cima do trio, cantando em binário - um verso sim; outro, não. Ainda assim, ele traz próprias pautas locais, com sentido. "Levanta a mão", as pessoas pensam que é pra simular assalto, mas é só pra secar a axila.

Outras pautas não imediatistas também são denunciadas no carnaval. Raul Seixas dizia que "um microfone na mão é um veículo muito poderoso e deve ser muito bem utilizado", e nosso querido Bell Marques faz bem isso.

Observe que ele escreveu uma música inteira sobre as mazelas dos nossos grandes centros urbanos.

Donos do mundo querem sangrar a beleza de amar; porém nos becos, peles negras e vozes nuas com história pra contar surgem cantando o reggae ioiô. O Vampiro da cidade não vai me devorar pois nosso grito é de força e nosso sangue não é azul, é colorido e nos faz gargalhar" (aririô, Chiclete com Banana)

Se há uma pauta brasileira, essa pauta é se livrar dos ataques que vem de todos os lados; fazendo resistência contra os donos do mundo e contra os vampiros da cidade. E como é essa resistência? Musical, dançante, arte decolonial.

Porque quando o Olodum fala que "a arma é musical", é falando sobre resistir ao novo modo de se colonizar: a colonização cultural. Com seus filmes enlatados, músicas enlatadas, padrões enlatados. Tudo enlatado pronto pra viagem, só abrir e consumir.

E você acha que só o Olodum fazia isso? Quando o reggae aportou em Salvador, ele se compôs com todo o movimento e efervescência cultural que já existia ali e fez a cabeça de geral.

Tanto que Bell, o Marques, ainda fez várias denúncias em forma de arte em outras músicas suas. Em Trópico Banana (observe a escolha de cada palavra: trópico e banana) é onde ele nos lembra que "do Oiapoque ao Chuí, temos gingado nagô, samba, frevo, sol de ipanema, e bumba-meu-boi"

Nagô (ou Iorubá) é uma etnia que habitava onde hoje seria entre Nigéria e Serra Leoa, cuja parte da população foi sequestrada e trazida pra cá na condição de escravizados. Por não aceitarem essa condição, tiveram que gingar.

Há outros exemplos, basta procurar a discografia do Chiclete com Banana, da década de 80. Você vai ver que tem muita coisa aqui pra gente esquentar a cabeça. Nossa pauta, nosso modo sulamericano de fazer resistência, de fazer esquerda, de fazer um socialismo nosso próprio, de comunidade e não segregação, mas sem pegar importado nem de onde bebem vodka nem jogam soccer.

O que vem de lá não dá samba. Alguém já até tentou dar samba pra essas coisas. Fez DVD, Tocô, Sambô, mas ninguém Gostô.

Nesse Natal, faça o que tu queres, não precisa necessariamente engolir um roteiro goela abaixo. Comemore o nascimento do menino jesus, ou do velho Oxalufã ,só reze se tu também perdoaste aqueles que vos tem ofendido, e seja brasileiro/a, mas brasileiro/a ao seu modo.

Por um Brasil mais Marquessista.